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Bibliografia: Memória Identidade e Patrimônio: O Palacete Matarazzo de Jaguariaíva-Pr

  • Rafael Jayme
  • 26 de set. de 2017
  • 10 min de leitura

Nascido em Castellabate na Itália em 9 de março de 1854, filho de Costabile Matarazzo e Mariangela Jovani ambos agricultores Francesco Antônio Maria Matarazzo sai da Itália aos 27 anos fugindo da crise econômica, deixando sua esposa e filhos e emigra para o Brasil em 1881, trazendo como capital a banha de porco que por fatalidade em um acidente com a embarcação se perde na baía de Guanabara na cidade de Rio de Janeiro (COUTO, 2004).

Francesco Matarazzo não entrando em desespero procura recursos para recomeçar no Brasil, se instala inicialmente em Sorocaba no Interior de São Paulo onde começou como mascate. Através de dinheiro emprestado ele comprava porcos e produzia banhas para venda (Brandão, 2000, p. 61).

Nascido em 1854, na região de Nápoles, na Itália, Francesco Matarazzo chegou ao Brasil em 1881. Inicialmente se estabeleceu em Sorocaba, onde deu início à política comercial que conservaria para sempre: “O bom negócio, se faz na compra e não na venda”, era o lema que seguia, cuidando mais de comprar barato do que vender caro. Em 1890, trocou Sorocaba por São Paulo. Na capital, abriu um comércio de secos e molhados na Rua 25 de Março, fez negócios com banha e começou a dedicar-se à importação. Bem sucedido, investiu num empreendimento industrial de grandes proporções: comprou um moinho de farinha o primeiro de São Paulo. Foi o início do que mais tarde seria chamado de um “império industrial” (COUTO, 2004).

Em 1889 mudou-se para são Paulo onde fez uma sociedade com os irmão Giuseppe e Luigi formando a empresa Matarazzo & Irmãos. Em 1900 consegue créditos com o London and Brazilian Bank e da início a construção de um moinho de farinha, já que a farinha consumida no Brasil era importada, dando início a um grande Império que em 1911 passa a se chamar Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo I.R.F.M (Brandão, 2000, p.62).

A "saga" desta poderosa família de origem italiana começou quando Francesco Matarazzo , nascido em 1854 em Castellabate, na província de Salerno, decidiu deixar a Itália de "fazer a América" ​​- como era chamado naqueles dias - e optar por emigrar para o Brasil. Inicialmente, a intenção é seguir a carreira militar, mas depois da morte de seu pai - advogado Costabile - e tornou-se herdeiro e proprietário de terras, muda seus projetos. Francesco é parte de uma família nobre de Salerno, que no passado era dono de um feudo e que por muitas gerações exerceu a sua vassalagem. No período entre a morte de seu pai e de sua partida para o Brasil é dedicado às atividades económicas da comunidade, mesmo como uma tentativa de readaptação à posição de prestígio que a família realizada no seu local de nascimento. Enquanto isso, a sociedade local começou a mudar características, introduzindo o costume que para os cargos de prestígio foram chamados de "homens de qualidade", ou seja, aqueles com qualificações educacionais. O desejo de emigrar por Francesco Matarazzo, que se reúne nove anos após a morte de seu pai, nasceu como uma alternativa para a degradação social de sua geração. (Torres, 2010).

Em 25 de junho de 1917 Francesco Matarazzo recebe o título de Conde, pois anos antes voltou a Itália para cuidar da saúde e nesse tempo estoura a primeira guerra mundial, onde Francesco Matarazzo fazia parte do serviço de abastecimento das tropas, por esse motivo recebeu o título de Conde Francesco Matarazzo de Castellabate, pelo Rei Vittorio Emanuelle. De acordo com o depoimento do Professor (José Axt, 2000) em uma viagem de trem do Conde , de São Paulo para o porto de Antonina no litoral do Paraná ao passar por Jaguariaíva ele avistou as quedas d’agua do rio Capivari conhecido como o Cachoeirão e mandou parar o trem, pois além das águas do rio ele também avistou nas proximidades um mangueirão de porcos associando as águas no fornecimento de energia, os porcos com matéria prima além do tronco ferroviário para escoamento da produção ele decide construir em Jaguariaíva uma unidade frigorífica. A economia de Jaguariaíva na década de 20 estava voltada a pecuária com a parte baixa da cidade em pleno desenvolvimento devido à estação ferroviária a parte alta da cidade estava praticamente desabitada o salto populacional de Jaguariaíva passaria aproximadamente de 3 800 para 15 965 habitantes de acordo com as estimativas do IBGE na década de 20.

Entrevista realizada com Belmiro Delgado e Mario Sieiro em outubro de 1999 em Jaguariaíva:

(...) ouvi contar que o conde, passando por aqui achou o local bonito, perto do rio, ponto próximo à divisa de São Paulo, Itararé, achou interessante construir esta indústria que ajudou muito a cidade.

O Conde foi passando em Jaguariaíva, daí ele viu o entroncamento da estrada de ferro, achou que aqui dava um frigorífico, indo para Antonina, onde ele tinha um moinho de trigo e máquina de descascar arroz, aí começou o frigorífico e deu certo.(Brandão 2000, p.57).

A escolha de Jaguariaíva obedecia dois elementos que os historiadores Leonardi e Hardman traziam em suas pesquisas, que se tratavam do escoamento de produção, do transporte dos trabalhadores imigrantes que eram feitas pela ferrovia. Por segundo critério os rios com a função de geração de energia hidrelétrica, porém a autora também traz a relação de distanciamento com São Paulo, pois São Paulo neste contexto é o maior centro industrial do Brasil (Brandão 2000, p.58 e 59).

A I.R.F. Matarazzo unidade frigorífica de Jaguariaíva tinha como principal matéria-prima carne suína, trazida das redondezas como a região do sertão de cima a área rural da cidade que as criações eram tocadas por uma estrada cerca de aproximadamente mais de 30 quilômetros de distancia da fábrica (Brandão 2000, p.57).

O frigorífico de Jaguariaíva tinha como linha produção vários tipos de presuntos, salsichas, defumados, além de banha em latada, entre outros derivados de suínos. As máquinas na unidade de Jaguariaíva funcionavam através de eletricidade, produzida pela hidrelétrica da I.R.F. Matarazzo no rio Capivari (Brandão 2000, p.64).

A produção era escoada através da ferrovia que levavam o produto até São Paulo, para serem comercializadas. Para esse escoamento foi necessário à construção de câmaras frigoríficas em Água Branca. Além das instalações das Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo, a usina hidrelétrica, também foram construídas em Jaguariaíva as moradias para os funcionários, e a casa de pouso do Conde quando ele estivesse visitando seus empreendimentos na cidade .(Brandão 2000, p.65).

Em 24 de maio de 1924 era construída em Jaguariaíva a casa onde iria abrigar a família Matarazzo, a mando do Conde Francesco Matarazzo, onde se tornou um símbolo do lugar (Brandão 2000, p.74).

Entrevista realizada pela autora Angela Brandão com professor José Axt:

A figura do Conde era considerada como um rei, toda vez que ele vinha para Jaguariaíva. Ele vinha apenas esporadicamente, uma ou duas vezes por ano, no máximo. Ele sabia que as coisas corriam muito bem. Ele construiu aqui na cidade uma mansão que as pessoas chamavam “o Palacete do Conde”. Então toda vez que o Conde e sua família vinham para Jaguariaíva era motivo de muita curiosidade. A Condessa, as filhas e os filhos do Conde saiam pela cidade para conhecer as pessoas, para conversar com as pessoas. É interessante que isso despertava a curiosidade porque era a família de uma estirpe nobre. A própria denominação “Conde” as pessoas não sabiam o que era. Mas sabiam que era uma pessoa nobre, apesar de não saber onde se conseguia esse título. Mas isso não importava. Eram consideradas pessoas de grande realce na cidade. Eles vinham pra cá e se sentiam a vontade. Andavam pelos campos, pelos lugares, sem nenhuma preocupação (Brandão, 2000, p.75).

Segundo (Brandão, 2000) o Palacete representava um lugar de riqueza, prosperidade e refinamento, que ficou guardado na memória da cidade, por sua grandiosidade e beleza por seu entorno, seu jardim, seu pomar e a decoração interna.

Através do livro de Conceição Scaciota Pacheco, filha do gerente das I.R.F. Matarazzo em sua obra A Família Scaciota e o Frigorífico Matarazzo, ela diz:

Enquanto formava-se a indústria o Palacete da Família Matarazzo era construído pelo Atílio Matarazzo num ponto privilegiado da propriedade. Arquitetos foram contratados e o Palacete tornou-se uma obra de arte em estilo Inglês, todo decorado com lindas peças de arte importadas. Os Jardins eram formados por cercas de cedro simetricamente podadas por um hábil jardineiro vindo da Alemanha, o senhor Carlos Timm, além de flores de diversos tipos no terreno ao fundo do Palacete foram plantadas várias árvores frutíferas. Em 1924 com o término da construção, o Palacete era admirado por todos que visitavam Jaguariaíva. (Pacheco, 2011, p10).

Entrevista realizada com Alice Timm e João Batista Alves em 10 de março de 2010, pela historiadora Plicila de Brito e a museóloga Mirella J. Colodel, presentes Amanda Colodel.

Dona Alice é filha de Maria Timm que foi zeladora/ camareira do Palacete Matarazzo desde 1925, e de Carlos Timm, jardineiro do local. A mãe tinha posse das chaves do Palacete que o abria uma vez por semana para arejá-lo. O avô Carlos Paulo Heusckel foi carpinteiro das IRFM, sendo responsável pela fabricação das caixas de madeira para armazenar a produção e também pelo feitio dos móveis que havia no Palacete. Toda família morava nos fundos do Palacete, local hoje que encontra-se em ruínas. O tio, Sr. Fritz também foi carpinteiro das IRFM.

O pai de S. João, Antônio Porfírio Alves, substituiu João Pessa na construção das IRFM de Jaguariaíva. A alvenaria da Usina também foi feita por ele.

D. Alice e seu João conheceram-se trabalhando no Escritório da Indústria, ela era Secretária e ele Auxiliar de Escritório e Office Boy, na época de Vicente de Mazzi. Não chegaram a trabalhar na tecelagem e saíram de Jaguariaíva em 1970.

Ambos detalharam o cotidiano da Família Matarazzo em visita a Jaguariaíva, o trabalho realizado pelos seus familiares, a disposição dos cômodos e móveis existentes no Palacete, bem como os jardins.

Na entrevista realizada ela traz detalhes do ambiente e cotidiano do Palacete Matarazzo.

A entrada principal abrigava a sala de estar, onde ainda existe a lareira. Haviam sofás estampados na cor verde com desenhos de pássaros, nesse mesmo ambiente havia uma imitação de piano, onde guardavam-se objetos. A cristaleira embutida recebia livros somente quando a Família Matarazzo estava em visita, e logo após os levava embora. Uma cadeira grande de vime completava os móveis do local. O tapete era de cor azul e vermelho. A sala maior, cuja janela dá para a entrada do Palacete, mantinha a sala de jantar com uma grande mesa, pratos expostos nas paredes e um guarda-louças. Acima da lareira daquela sala, existia um cartucho usado em canhões, de cor bronze com brasão em dourado. A cortina era de tecido brilhante, parecido com seda, toda florida, parecia ser em alto relevo. O tapete dessa sala era de cor creme e verde.

Eram três os principais quartos da casa, sendo o maior o do Conde e de sua esposa, com móveis muito simples, o quarto possuía duas camas de solteiro feitas de ferro, semelhante a camas de hospital, com colchões duros, cobertos com roupas de cama branca. Não havia oratório ou qualquer tipo de pintura. As cortinas eram de gorgorão azul bem escuro. A banheira diferente da que hoje está no local, possuía pés. O quarto ao lado era usado por visitas casadas e o menor quarto era para as crianças. Os armários embutidos no corredor guardavam as roupas de cama.

A “sala secreta” foi divida mais tarde, anteriormente formava dois quartos junto à sala ao lado (onde estão guardados os troféus da Associação Atlética Matarazzo). Transformada em escritório possuía apenas uma mesa com materiais de expediente, o ambiente servia para tratar assuntos particulares.

A copa ficava na entrada de trás com um único armário e uma adega de whiskys, já a cozinha dispunha de um fogão a lenha, uma mesa de mármore e o armário embutido. A cozinheira responsável chamava-se Maria Neguinha.

A banheira do quarto de fora também tinha pés. O porão possuía dois quartos e banheiro onde os motoristas particulares do Conde pernoitavam. No mesmo ambiente guardavam-se as malas, verduras e outros alimentos para a estada da família Matarazzo, a adega de vinhos também era nesse local. Maria Timm, mãe de D. Alice passava roupas próxima à porta de baixo, onde fica o tanque. No sótão, que também tinha quarto, guardavam-se colchões extras. Era lá que a cozinheira dormia quando ficava muito tarde para voltar para casa. Os vigilantes não ficavam no mirante como muitas pessoas acreditam. Somente a família Matarazzo tinha acesso a ele para observar ao redor do Palacete. Quatro vigilantes se revezavam durante o dia para fazer a segurança ao redor do Palacete, sendo obrigados a passar sempre pelo Chefe de Vigilância para provar que não estavam dormindo em serviço. Os uniformes usados eram confeccionados em brim, com capas gaúchas de cor escura para proteção do frio e da chuva. Relatou-se que houve maior preocupação com a segurança depois que um dos filhos do Conde foi sequestrado em São Paulo.

Não haviam lustres luxuosos, somente globos comuns. Os pisos dos banheiros eram de laje vermelha.

Alice Timm também relatou o jardim e o pomar que tanto encantou as visitas do Palacete.

Eucaliptos plantados por Carlos Timm, pai de D. Alice, enfeitavam a chegada ao Palacete, em seguida cedrinhos circundavam toda a casa indo até onde D. Alice morava nos fundos do Palacete, ali havia um bosque de amoreiras. Não havia o busto do Conde, nesse local eram plantadas “onze horas”, “unhas de gato” subiam pelo muro e abaixo das janelas haviam “gerânios vermelhos”. Na entrada principal floresciam jasmins que cresciam com a ajuda de arames. “Alamandas” amarelas coloriam os lados do Palacete, juntamente com trepadeiras sustentadas por arames. “Cravinas”, “Roseiras” e “Mil Cores” completavam o visual do jardim. Mesmo quando estava em férias o pai de D. Alice preocupava-se com o jardim, indo até São Paulo comprar sementes de flores diferentes para agradar a Família Matarazzo. Na casa antes do Palacete morava um primo do Conde chamado Carlos Bruno Matarazzo, chefe que cuidava da Indústria quando o Conde não estava. Consta que era uma casa dividida para duas famílias. Ainda antes de chegar ao Palacete, do lado direito estava a Cancha de Tênis. Nos fundos da casa onde D. Alice morava tinha leiteria, galinheiro e verduras que eram plantadas ali.

Com inúmeras árvores frutíferas, estava localizada próxima a Indústria e não perto do Palacete como muitos dizem. Plantavam “tungue”, espécie de semente grande de arbusto, que usavam para fazer óleo para fins militares, mas não levaram adiante o empreendimento. Havia um imenso parreiral, a qual vendiam as uvas.

Relata também as visitas do Conde em Jaguariaíva.

A vinda da família era anual ou no máximo visitavam a região duas vezes por ano, ficando de 4 a 5 dias em Jaguariaíva. Chegavam em carros da marca wolksvagem, com refrigeração a ar, deixando todos espantados com a modernidade. Vinham acompanhados de outras pessoas e geralmente de dois motoristas.

O Palacete Matarazzo desde sua construção sempre foi notório na identificação e memória da população, resultando na preservação do patrimônio, transformando no ano de 2009 em Museu Histórico Municipal de Jaguariaíva.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BATISTA, Aline g.Martins Filho, jrf a construção da identidade social: memória, interação e institucionalização. In revista partes, são paulo novembro 2010

BRANDÃO, Angela “memórias” frigorífico das indústrias reúnidas Francisco Matarazzo em Jaguariaíva , Curitiba pndu 2000

PACHECO, Conceição Scaciota, a família Scaciota e o frigorífico Matarazzo, São Paulo 2011

AXT, José Jaguariaíva do tropeirismo aos dias atuais , Jaguariaíva 2000

Ludwig, Agustinho Argemiro, FRIZZANCO, Orlando, história de Jaguariaíva, volume I Jaguariaíva 2006

COUTO, Ronaldo Costa. Matarazzo: a travessia. São Paulo: planeta, 2004

COUTO, Ronaldo Costa. Matarazzo: o colosso. São Paulo: planeta, 2004

NOGUEIRA, Cleber Suckow; TRINDADE, Dorival Paula, A Visão Empreendedora no Processo de Sucessão O caso das Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo. Santos, 2010 http://www.faculdadedoguaruja.edu.br/revista/downloads/edicao72013/artigo09-a-visao-empreendedora-no-processo-de-sucessao-o-caso-das-industrias-reunidas-fabricas-matarazzo.pdf Acesso em: 04/06/2016

TORRES, Ana Paula – artigo a longa parábola dos Matarazzos disponível http://www.musibrasilnet.it/archivio/diciassette/matarazzo.htm Acesso em: 04/06/2016

RFFSA. monografia das unidades de produção 1965: 7-9.

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